O Angioedema Hereditário é uma doença genética rara clinicamente caracterizada por episódios recorrentes de edema agudo localizado na pele e/ou mucosas, podendo atingir a face, extremidades, vias aéreas superiores (edema da glote) ou o tubo digestivo, produzindo neste caso um quadro de fortes dores abdominais (similar ao do abdómen agudo), vómitos ou diarreia e, de entre os sintomas menos comuns, a presença de ascite.
As crises agudas são autolimitadas, com duração entre 12 e 72 horas. Tendem a surgir de forma espontânea ou na sequência de stress emocional, traumatismo, infecções, manipulações médico cirúrgicas (caso das dentárias, otorrinolaringológicas, ginecológicas, entre outras) ou ainda induzidas por medicamentos (estrogéneos/anticonceptivos e inibidores da enzima de conversão da angiotensina).
Na maioria dos casos o Angioedema é uma doença hereditária bioquimicamente causada por um défice quantitativo ou funcional do C1 – inibidor esterase (C1-INH), enzima que controla a activação do complemento. Existem três tipos de alteração desta enzima, apesar do último ser muito raro.
Tipo I ou défice quantitativo. É o mais frequente (85%), caracterizando-se pela presença de níveis baixos de C1-inibidor.
Tipo II ou défice qualitativo. Representa cerca de 15% dos casos, pautando-se por níveis normais de C1-inibidor (por vezes até ligeiramente aumentados), embora com actividade funcional diminuída.
Tipo III. O complemento não apresenta alterações, estando esta forma de Angioedema relacionada com os estrogéneos endógenos ou exógenos (anticonceptivos ou de substituição).
Sabe-se hoje que o gene que controla a síntese do C1-INH está localizado no cromossoma 11 e o DNA do gene estrutural pode apresentar vários tipos de alterações, de forma que cada família afectada tem a sua característica genética própria. Apresenta transmissão autossómica dominante, afectando entre 1:50.000 a 1:150.000 indivíduos. A primeira descrição da patologia foi efectuada por Graves em 1863, tendo sido necessário esperar mais de um século para que o mecanismo envolvido fosse esclarecido, nomeadamente com a demonstração da alteração ao nível do C1-INH. O C1-INH tem um efeito modulador na activação de vários mecanismos fisiológicos de regulação homeostática sistema do complemento, sistema da síntese das cininas, sistema intrínseco da coagulação e sistema fibrinolítico. Na cascata do complemento, o C1-INH impede a activação do primeiro factor (C1), com a consequente não activação dos seus dois substractos, o segundo (C2) e quarto (C4) componentes. Agostini e Cicardi demonstraram que os episódios de angioedema caracterizam-se por uma clivagem do cininogénio com a formação de plasmina. O resultado final desta activação é a libertação local de mediadores vasoactivos com aumento da permeabilidade capilar. Esta situação leva ao aparecimento de edema por extravasamento do fluído intravascular.
Diagnóstico
Teste simples e prático dos níveis de C1 inibidor e C4.